segunda-feira, 25 de maio de 2009

Religião e Alucinação.


Tenho muita pena dos crédulos. Chego a chorar por mulheres e homens ingênuos; os de semblante triste que lotam as magníficas catedrais, na espera de promessas que nunca se cumprirão. Estou consciente de que não teria sucesso se tentasse alertá-los da armadilha que caíram. A grande maioria inconscientemente repete a lógica sinistra do, “me engana que eu gosto”.


Se pudesse, eu diria a todos que não existe o mundo protegido dos sermões. Só no “País da Alice” é possível viver sem perigo de acidentes, sem possibilidade da frustração, sem contingência e sem risco.


Se pudesse, eu diria que não é verdade que “tudo vai dar certo”. Para muitos (cristãos, inclusive) a vida não “deu certo”. Alguns sucumbiram em campos de concentração, outros nunca saíram da miséria. Mulheres viram seus maridos agonizarem sob tortura. Pais sofreram em cemitérios com a partida prematura dos filhos. Se pudesse, advertiria os simples de que vários filhos de Deus morreram sem nunca ver a promessa se cumprir.


Se pudesse, eu diria que só nos delírios messiânicos dos falsos sacerdotes acontecem milagres aos borbotões. A regularidade da vida requer realismo. Os tetraplégicos vão ter que esperar pelos milagres da medicina - quem sabe, um dia, os experimentos com células tronco consigam regenerar os tecidos nervosos que se partiram. Crianças com Síndrome de Down merecem ser amadas sem a pressão de “terem que ser curadas”. Os amputados não devem esperar que os membros cresçam de volta, mas que a cibernética invente próteses mais eficientes.


Se pudesse, eu diria que só os oportunistas menos escrupulosos prometem riqueza em nome de Deus. Em um país que remunera o capital acima do trabalho, os torneiros mecânicos, os motoristas, os cozinheiros, as enfermeiras, os pedreiros, as professoras, vão ter dificuldade para pagar as despesas básicas da família. Mente quem reduz a religião a um processo mágico que garante ascensão social.


Se pudesse, eu diria que nem tudo tem um propósito. Denunciaria a morte de bebês na Unidade de Terapia Intensiva do hospital público como pecado; portanto, contrária à vontade de Deus. Não permitiria que os teólogos creditassem na conta da Providência o rio que virou esgoto, a floresta incendiada e as favelas que se acumulam na periferia das grandes cidades. Jamais deixaria que se tentasse explicar o acidente automobilístico causado pelo bêbado como uma “vontade permissiva de Deus”.


Se pudesse, eu pediria as pessoas que tentassem viver uma espiritualidade menos alucinatória e mais “pé no chão”. Diria: não adianta querer dourar o mundo com desejos utópicos. Assim como o etíope não muda a cor da pele, não se altera a realidade fechando os olhos e aguardando um paraíso de delícias.
Estou consciente de que não serei ouvido pela grande maioria. Resta-me continuar escrevendo, falando... Pode ser que uns poucos prestem atenção.
Soli Deo Gloria.


Ricardo Gondim

3 comentários:

  1. Graça e Paz amado amigo,
    Parabéns pela escolha do texto,não poderia ser melhor,esse LÚCIDO E CONTUDENTE - É um pensador que exerce pressão sobre a Igreja Evangélica contemporânea, tão desgastada por mazelas, incoerências, que ensina ao invés de gritar, que faz refletir ao invés de cegar, que abre horizontes ao invés de tirá-los de seus seguidores. Parabéns mais uma vez pela escolha do texto postado.
    Um grande abraço.
    Silvania Itaboray.

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  2. Mano parabens pelo post e pelo blog, é isso ai, nossa função como ministros do evangelho é falar a verdade segundo Cristo, não devemos nos prender ou calar diante das incoerencias e distorções que instituições fazem do verdadeiro Evangelho.
    Deus abençõe você e faça as palavras ecoarem mundo afora.
    Abração.

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  3. ....é verdade mano,até quando vamos ter que esperar pessoas com fé suficiente para vivermos os milgares prpoostos no evangelho de Jesus,e não somente os milagres,mas a revelação dos filhos de Deus nesse mundo tenebroso....mas creio que esse grio que temos dado por asqui é para dizer que ...está próxino o Reino dos céus.....e nós fazemos parte disso...Deus abençoe e continue sendo benção nessa geração

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